Mais um capítulo sobre a história de Alagoas é contado. Dessa vez, através da obra “Ensaios sobre Escravidão e Sociedade no Brasil Colonial e Imperial”, lançada neste mês pela editora da Universidade Federal de Alagoas (Edufal).
O livro apresenta ao público leitor seis textos dedicados aos séculos XVII, XVIII e XIX e é fruto dos estudos do “Núcleo Escravidão e Sociedade na Época Moderna” (Nesem), coordenado pelo professor Gian Carlo Melo, doutor em História. O Nesem tem apoio do Governo de Alagoas, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapeal).
A obra detalha, por exemplo, a questão dos embarcados, ou seja, quem cuidava dos navios e como era esse processo, e o outro explica como era feito o abastecimento dos que saíam do Recife, de onde eram trazidos os africanos que vieram para a região onde hoje é Alagoas, mostrando como a elite local estava articulada em países da África para conseguir fazer essa compra de homens e mulheres, que eram chamados de “peças”.
A Fapeal apoia o Nesem desde 2016, através do edital de Humanidades, e também financiou os dois últimos eventos do núcleo.
“Eu só pude congregar alguns desses pesquisadores, colocar eles em contato e pensar o que eles poderiam estar apresentando para formar essa coletânea a partir desses encontros. Isso é de suma importância para haver trocas científicas, indicação de documentação, novas descobertas, como o que Cândido Domingues e Suely Almeida apresentam, e a documentação que eu usei para falar sobre Alagoas e Santa Luzia do Norte, que é uma documentação raríssima no Brasil, o rol de confessados, literalmente uma lista de quem poderia se confessar na igreja; lembrando que Santa Luzia chegava até onde, hoje, ficam Maceió e Paripueira”, comenta o professor Gian Carlo.
Outro ponto de interesse explorado pela obra é a diversidade da produção colonial em Alagoas para além da cana-de-açucar. Três dos ensaios foram feitos a partir de pesquisas financiadas em Edital Universal do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNpq).
Também assinam os estudos do livro Marcia Amantino, pesquisadora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro; Suely de Almeida, Luanna Oliveira, e Marcus de Carvalho, da Universidade Federal de Pernambuco; Cândido Domingues, da Universidade Estadual da Bahia e Paulo Henrique Cadena, da Universidade Católica de Pernambuco.
O livro “Ensaios sobre Escravidão e Sociedade no Brasil Colonial e Imperial” está disponível para compra em www.edufal.com.br.
PERSPECTIVAS
Atualmente, Gian Carlo Melo estuda o processo de chegada, através do Recife, dos africanos trazidos para o Brasil, e depois, a sua distribuição, a partir do Recife, que poderia acontecer tanto margeando o litoral, até Porto de Pedras, quanto a pé, pois se conhecem desde o Período Colonial as chamadas “Rotas do Sertão”, que passavam também pela região que hoje é Alagoas, e poderiam chegar até Minas Gerais.
Ele explica que essas rotas eram utilizadas principalmente na época da extração do Ouro (Século XVII), em que o Porto do Recife, o porto de Salvador e o Porto do Rio de Janeiro receberam muitos seres humanos escravizados.
“Mas ficando só aqui nas partes ao Sul da capitania de Pernambuco, território onde hoje é Alagoas, a gente pode imaginar que a população que queria consumir essa mão de obra escravizada dependia muito dos comerciantes do Recife, e Alagoas era uma localidade que contribuía para este cenário internacional de comércio de gente, já que alguns dos produtos que eram trocados, em especial o fumo, saía de Alagoas, ia para Recife, e no Recife, era embarcado como uma das mercadorias de troca por escravizados “em África”, explica o pesquisador.
Fonte: Agência Alagoas
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