Quando vejo a terra rachada e quente, me aqueço por dentro e distante ouço o coaxar dos sapos em pequenos barreiros, isso me faz lembrar daquela comidinha feita no fogão de lenha, aquela água doce castigada dentro do pote de barro, tirada com um coco seco de cabo alongado, no quintal aqueles feixes de lenha secas a se amontoar e o verde plantio de mandacarus e palmas contornando a cerca, iguaria perfeita para alimentar o gado desse nosso sertão. De homens bravios e mulheres valentes, não diria de feito de violências, mas de uma firmeza na labuta do campo, que traz um apreço gigantesco em sua religiosidade e adoração a Deus, que acordam cedo no primeiro cantar do galo, levantam para cuidar dos gados, cabras, cabritos, ovelhas e galinhas animais criados as soltas. As mulheres a triturar o milho no pilão para fazer aquele cuscuz saboroso, feito do milho plantado e colhido ali mesmo no campo perto de casa, daquele café forte e encorpado de sabor definido e apreciado em todo o sertão, daquele leite morno tirado do peito da vaca e servido. Do almoço com favas e carne de bode, do pirão de fubá, da rapadura e também daquela manteiga de garrafa que vem embebecer o cuscuz e para acompanhar esse banquete, suco de umbu/cajá, maracujá e caju. E ao entardecer bate aquele friozinho gostoso, onde os mais velhos fazem uma fogueira em frente de casa e começam a se aquecerem, enquanto os mais jovens pegam uma sanfona, zabumba e triangulo, começa a dedilhar no terreiro e vai chegando gente e no som tirado dos músicos a rapaziada então caem a dançar, aquecendo e relaxando os corpos doloridos e cansados do trabalho. Fico parado imaginando a bravura desses homens fortes do campo que vivem calejados sofrendo as necessidades, que lutam diuturnamente pela sobrevivência de sua família, mas com um largo banquete a oferecer aos visitantes, de crença e histórias vividas para contar. Eita sertão arretado de bom taí. eu gostei!… De gente que gosta da gente mesmo sem conhecer à primeira vista, já se mostra afetivo e não demonstra acanhamento em poder servir.
Valter Lima
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