No coração histórico do bairro do Jaraguá, o Misa, que completa 43 anos, se tornou um símbolo de memória e adaptação, conectando gerações com um rico acervo
Há 43 anos, nascia em Maceió um espaço que transformaria a preservação da memória audiovisual em Alagoas, o Museu da Imagem e do Som de Alagoas (Misa). Idealizado pelo presidente da então Fundação Teatro Deodoro (Funted), Bráulio Leite Júnior, o Misa se tornou um elo entre o passado, o presente e o futuro, conquistando o papel de protagonista no cenário do audiovisual e da história alagoana.
O equipamento cultural é um verdadeiro repositório de memórias, que carrega em cada parte da sua estrutura a evolução da tecnologia da informação ao longo das décadas. Com seu acervo diversificado e rico em peças que carregam histórias próprias, ele também é um dos monumentos históricos mais procurados para visitação na capital alagoana.
Em atividade por quase cinco décadas, o Misa é um exemplo da capacidade de adaptação. Ao longo dos anos, passou por inúmeras transformações, mas continua a demonstrar uma força que transcende o tempo.
Manter um prédio histórico em pleno funcionamento é um desafio, mas o Governo de Alagoas, por meio da Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa (Secult), tem desempenhado um papel fundamental na preservação e valorização do equipamento, garantindo que o patrimônio cultural continue a ser um espaço da memória e da identidade do estado.
“O Museu da Imagem e do Som de Alagoas é muito mais do que um repositório de memórias, ele é um símbolo da nossa história e da nossa cultura. O prédio histórico que abriga o Misa é uma parte fundamental deste legado. Com sua linda arquitetura neoclássica e um passado que vai de Consulado Provincial a Corpo de Guarda, o edifício em si é um testemunho vivo da evolução de Maceió e de Alagoas”, disse a secretária de Estado da Cultura e Economia Criativa de Alagoas.
“O governador Paulo Dantas tem garantido o suporte necessário para que o Misa continue sendo um espaço educativo e que ele continue a enriquecer nossas vidas por muitas gerações”, reforçou a gestora.
A Origem
Criado em 1981, o museu era algo completamente novo para a comunidade e até mesmo para os funcionários, que estavam prestes a contribuir para que, mais tarde, inúmeras gerações pudessem apreciar e conhecer uma parte da história de Alagoas. No seu primeiro ano de funcionamento, o Misa começou suas atividades na sala Hekel Tavares, cedida no Teatro Deodoro. Apesar de contar com recursos e equipamentos limitados, o museu conseguiu despertar o interesse e a curiosidade do público.
Em 1982, com o crescimento das atividades e a necessidade de um espaço mais adequado, o fundador Bráulio Leite, durante a gestão do governador Guilherme Palmeira, consegue transferir o Misa para um edifício localizado na Rua Sá e Albuquerque, 275, no histórico bairro de Jaraguá. Porém, para que o museu pudesse funcionar adequadamente, foram necessárias reformas no prédio. A inauguração oficial do novo espaço ocorreu em 1987, marcando a abertura efetiva das portas do Misa ao público.
O edifício, um verdadeiro monumento arquitetônico de estilo neoclássico brasileiro, já abrigou várias instituições importantes, incluindo o Consulado Provincial, a Recebedoria Central do Estado e o Corpo de Guarda. Contudo, com o tempo, o prédio começou a apresentar sinais de desgaste.
Em 1998, a estrutura sofreu deterioração significativa, levando à suspensão temporária dos serviços do museu. Entre 1999 e 2010, o prédio passou por reformas e restauros técnicos para melhor atender a comunidade com os serviços e as atividades.
Tesouro além do tempo
O Museu da Imagem e do Som de Alagoas é um verdadeiro tesouro. Seu acervo é uma preciosidade que resistiu ao tempo e agora permite que as pessoas conheçam a formação histórica de Alagoas. Em suas dependências, é possível encontrar uma variedade de objetos, como celulares, câmeras, computadores e gravadores, que, juntos, evocam e preservam épocas muitas vezes esquecidas.
No entanto, a construção desse rico acervo não foi uma tarefa fácil. O fundador Bráulio Leite enfrentou desafios significativos para reunir objetos e artefatos culturais que contassem a história do audiovisual alagoano. Foi quando ele teve a brilhante ideia de lançar uma campanha de arrecadação de itens, incentivando a doação de itens como fotografias da antigas do Estado e equipamentos de som.
Gilberto Leite, pesquisador e funcionário mais antigo do Misa, com 41 anos de dedicação, destaca a importância dessa campanha. “Com essa campanha conseguimos arrecadar de imediato aproximadamente 12 mil fotos da Maceió antiga. Naquela época eu tratava e plastificava as fotos que foram chegando e como o museu estava crescendo, o acervo também foi aumentando e outras doações começaram a chegar, por exemplo de livros”, disse o funcionário.
“Sempre tive vontade de trabalhar em museu e para mim estar aqui é uma terapia. Eu vendo essas fotos de Maceió antiga, me sinto como se estivesse vivendo naquela época. Às vezes sonho que estou andando de bonde em Maceió, nas ruas do comércio cheias de vitrines”, acrescentou.
Espaços e projetos
O Misa abriga também memórias de figuras importantes de Alagoas. O memorial de Edécio Lopes, inaugurado em 2012, possui quase 12 mil itens. O memorial Valmir Calheiros, estabelecido em 2014, é composto por itens cedidos pela família, enquanto o memorial Freitas Neto, oriundo de uma exposição em 2017, foi doado ao museu. Em 2021, o memorial do Dr. Raimundo Campos foi composto com uma coleção rara de 3 mil itens, incluindo CDs, DVDs, equipamentos eletrônicos, discos de vinil, fitas VHS, fitas cassetes, fotos, livros e revistas sobre música e cinema. Além disso, o público pode apreciar composições autorais e momentos inéditos com ícones da música brasileira como Cartola, Djavan, Cauby Peixoto e Dercy Gonçalves.
A historiadora e assessora técnica do Misa, Jinny Mikaelly, destacou o acervo do memorial do Dr. Raimundo Neto como um local precioso e significativo dentro do museu. “Com seus arquivos “implacáveis”, o memorial do Dr. Raimundo Campos é um local que reúne registros únicos e importantíssimos para a evolução da história de Alagoas. São registros raros e momentos inéditos com vários compositores em conversas e momentos musicais que possibilitam pesquisa e difusão da musicalidade nordestina e brasileira”, contou a assessora.
Para além dos acervos, o Misa tem um papel importante na comunidade alagoana, o de transmitir todo o conhecimento educacional e cultural para aqueles que buscam informações e estudam as épocas da formação do estado alagoano. Entre as iniciativas voltadas à educação como exposições, oficinas, palestras entre outros, podemos destacar o Cine Misa, um projeto que ganhou bastante notoriedade e prestígio pelo público.
Segundo Jinny, o Cine Misa é uma iniciativa que visa à exibição de filmes, documentários e curtas alagoanos e nacionais. “É um projeto totalmente gratuito e essencial para a sociedade, porque possibilita o acesso ao audiovisual de Alagoas e dissemina conhecimento e estímulo para a população que não tem um conhecimento considerável sobre a história de desenvolvimento do seu estado”, disse.
A primeira edição do projeto começou em 2011 e chegou até os dias de hoje, com inúmeras exibições de filmes, documentários e produções alagoanas que fomentam o acesso ao audiovisual e aos espaços do patrimônio cultural do Estado.
Fonte: Agência Alagoas
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