Morreu na manhã desta sexta-feira (22), o mestre Nelson da Rabeca, reconhecido como Patrimônio Vivo de Alagoas desde 2009. O artista apresentou um quadro infeccioso grave e foi encaminhado para a área vermelha do Hospital Geral do Estado, onde recebeu atendimento multidisciplinar, mas não resistiu.
Seu Nelson, como também era conhecido, era natural de Joaquim Gomes, mas morava no município de Marechal Deodoro, na Região Metropolitana de Maceió. Foi trabalhador rural grande parte de sua vida, até descobrir seu dom para a música e se tornar rabequeiro.
Ao longo da manhã, o mestre alagoano recebeu inúmeras homenagens de artistas e personalidades da cultura alagoana. “Alagoas se despede do autodidata Nelson da Rabeca. Um artista único, que deixa uma marca imensurável na nossa cultura“, disse a secretária de Estado da Cultura, Mellina Freitas.
“Artista no transformar madeira em arte, fabricava suas rabecas e tirava delas o som da genialidade e da humildade, caminho que o levou e elevou a grandeza. A Cultura Popular de Alagoas perde um dos seus grandes representantes. Aqui, ficamos tristes e mais pobres, lá no céu, uma festa com som singelo de uma Rabeca singular e harmoniosa”, escreveu a especialista em cultura popular, Josefina Novaes
“Foram poucos contatos, perto de uma vida de admiração. Pelo artista, tocador, fabricador de rabecas exportadas pelo mundo inteiro e motivo de orgulho constante para nosso Estado e nossa gente. Mas, o acolhimento e o sorriso desse Mestre ao nos receber em casa, era algo que eu nunca consegui explicar”, escreveu a cantora Fernanda Guimarães.
O sepultamento do músico acontece no Cemitério Nossa Senhora do Carmo, em Marechal Deodoro, às 16h.
De cortador de cana a músico reconhecido
Considerado um dos maiores representantes da música tradicional nordestina do Brasil, Nelson da Rabeca traduzia a riqueza da cultura alagoana nas suas composições e no talento de tocar sua rabeca, instrumento construído por ele artesanalmente.
Sua habilidade e inegável genialidade conquistou o respeito de artistas e músicos do mundo inteiro. “Seu Nelson é um ícone da resistência e da fé da música brasileira.”, disse a violinista Catarina de Labouré.
Foi só aos 54 anos que descobriu seu dom para a música. Tudo começou quando viu um violino na televisão e se apaixonou pelo instrumento. Ele não sossegou até fazer, ele mesmo, um exemplar para si. Daí por diante, tocar a rabeca se transformou em ofício e prazer.
Sua rabeca tinha afinação própria, criada sem nenhum estudo ou conhecimento técnico e que o distinguia no cenário musical. Com três CDs lançados e um DVD, que reúne o trabalho musical desenvolvido ao longo da vida, Nelson não sabia explicar como aprendeu a tocar o instrumento. “Parece que nasceu junto”, dizia.
A discografia do brilhante rabequeiro conta com riquíssimas composições em torno do baião, xote e do pé-de-serra acompanhadas pela sua rabeca de sonoridade robusta, sua marca registrada.
Em 2009, o mestre Nelson da Rabeca recebeu o Registro do Patrimônio Vivo do Estado. A preservação do saber do rabequeiro autodidata foi assegurada pelo repasse dos conhecimentos musicais para os filhos e netos, além das oficinas e palestras que ministrou por todo o país.
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