Pesquisa desenvolvida busca tornar mais preciso o diagnóstico da doença que ainda afeta 70 municípios alagoanos
A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal), por meio do Programa de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Regional, tem fortalecido a interiorização da ciência e a fixação de pesquisadores no território alagoano.
Um dos exemplos recentes deste investimento é a pesquisa feita pela doutora Flávia Damasceno, que atualmente desenvolve o projeto “Avanços no diagnóstico da esquistossomose: validação de técnica imunológica para o controle da enfermidade em área endêmica no estado de Alagoas”.
A doença, causada pelo parasita Schistosoma mansoni, continua sendo um problema de saúde pública. Com 70 municípios incluídos na área endêmica, principalmente nas regiões agreste e leste, a realidade local demanda ações mais eficazes de controle e diagnóstico.
Executado no Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), o projeto está na metade de sua execução e já começa a apresentar resultados significativos.
Segundo a estudiosa, o método atualmente utilizado para diagnóstico conhecido como Kato-Katz exige análise de amostras de fezes e apresenta baixa sensibilidade em casos de baixa carga parasitária, situação comum entre moradores dessas regiões que já foram submetidos a tratamentos anteriores. Os resultados são falsos negativos que dificultam o controle efetivo da doença.
Para enfrentar esse cenário, a pesquisa desenvolve um método sorológico mais sensível, baseado na análise de amostras de sangue, que permitirá detectar a infecção mesmo quando há pouca carga parasitária. “O diagnóstico preciso dos casos de esquistossomose permitirá o tratamento adequado de pessoas infectadas, eliminando possíveis novos focos de transmissão e contribuindo para o controle da doença”, afirma a doutora em ciências.
Resultados parciais
Segundo a estudiosa, aproximadamente 60% dos participantes testados até agora apresentaram resultado positivo para o Schistosoma mansoni. Além da coleta e análise, o grupo de pesquisa trabalha agora na padronização do teste sorológico, etapa fundamental para validar cientificamente a metodologia e permitir sua aplicação em larga escala.
“Esperamos que o novo teste seja mais sensível do que os testes convencionais e venha a contribuir para o diagnóstico mais preciso dos casos de esquistossomose, independente da carga parasitária”, frisou Flávia Damasceno.
Com conclusão prevista para o final de 2025, a expectativa da equipe é que após a validação o novo método de diagnóstico possa ser incorporado às políticas públicas de saúde e seja amplamente utilizado em regiões endêmicas.
O objetivo é contribuir com o controle da esquistossomose em Alagoas, mas também com a disseminação de uma tecnologia acessível e eficaz em outras regiões do Brasil.
Colaboração
O estudo é feito sob a supervisão do vice-diretor do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde da Ufal, professor Wagnner Porto, e ocorre em cooperação com a Universidade Federal de Minas Gerais, com o grupo liderado pela pesquisadora Déborah Negrão-Corrêa.
Desse modo, a articulação entre a universidade receptora, a Secretaria de Saúde do município de Viçosa (local onde os testes estão sendo coletados) e a comunidade local tem sido fundamental para o andamento do projeto.
“Recebemos o apoio da Secretaria de Saúde de Viçosa para acesso à comunidade e, em troca, entregamos laudos de todos os exames parasitológicos, facilitando o tratamento adequado não só para esquistossomose, mas também para outros parasitas intestinais. É uma troca que fortalece o vínculo entre pesquisa e população”, aborda Flávia Damasceno.
Da iniciação científica à fixação em Alagoas
A doutora Flávia Damasceno é natural de Santana do Ipanema e iniciou sua trajetória acadêmica com apoio da Fapeal ainda na graduação, por meio de uma bolsa de iniciação científica concedida quando estudava Ciências Biológicas na Universidade Estadual de Alagoas (Uneal). “Foi nesse período que comecei a fazer pesquisa e percebi que era o que eu queria fazer: pesquisa em parasitologia”, relata a cientista.
Após mais de uma década de formação na Universidade de São Paulo (USP), onde fez mestrado, doutorado e pós-doutorado, a estudiosa retornou a Alagoas com apoio do edital Programa de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Regional, promovido pela Fapeal, em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
O programa tem como foco a atração de doutores para fortalecer programas de pós-graduação no estado, especialmente em áreas de desenvolvimento científico ainda em consolidação e interior.
Para a pesquisadora, a oportunidade de desenvolver projetos de impacto em seu estado de origem representou a realização de um desejo antigo: “Voltei em 2022 por meio desse edital para trabalhar em Alagoas. Estou feliz em ter voltado e pretendo continuar contribuindo com as minhas pesquisas, para o desenvolvimento do estado”, afirmou ela.
Fonte: Agência Alagoas
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