Walter Benjamin, pressentiu a iminência da terrível narrativa da história a partir da seguinte exposição.
Existe um quadro de Klee intitulado “Angelus Novus”. Nele está representado um anjo, que parece estar a ponto de afastar-se de algo em que crava o seu olhar. Seus olhos estão arregalados, sua boca está aberta e suas asas estão estiradas. O anjo da história tem de parecer assim. Ele tem seu rosto voltado para o passado. Onde uma cadeia de eventos aparece diante de nós, ele enxerga uma única catástrofe, que sem cessar amontoa escombros sobre escombros e os arremessa a seus pés. Ele bem que gostaria de demorar-se, de despertar os mortos e juntar os destroços. Mas do paraíso sopra uma tempestade que se emaranhou em suas asas e é tão forte que o anjo não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, para o qual da às costas, enquanto o amontoado de escombros diante dele cresce até o céu. O que nós chamamos de progresso é essa tempestade. BENJAMIN,1940, tese IX)
Essa memória coletiva, por sua vez, se apresentava sucumbida pelo poder ideológico da técnica derivada da razão instrumental, destruidora dos espaços coletivos de memória. Eis como Canclini interpreta o fenômeno:
O frágil enraizamento na própria história na América Latina a impressão de que a modernização seria exigência importada e uma inauguração absoluta. Tanto na política quanto na arte, nossa modernidade foi a insistente perseguição de uma novidade que podia imaginar-se sem condicionamentos quando abondonava a memória. Essa relação de estranhamento com relação ao passado é mais visível nos países onde projeto social foi autonegador da história[…]. (CANCLINI, 2000.).
Em busca de um cortejo triunfal da racionalidade técnica, de uma história feita, apenas, por um pequeno grupo autocrático. É o que está acontecendo com silenciamento dos ideais de liberdade do povo negro sustentado por Zumbi e Dandara nas Alagoas. Uma racionalidade que submete o processo histórico de luta de um povo ao império da indiferença e do esquecimento. Assim, afirma Benjamin:
O dom de despertar no passado as centelhas da esperança é privilégio exclusivo do historiador convencido de que também os mortos não estarão em segurança se o inimigo vencer. E esse inimigo não tem cessado de vencer. (BENJAMIN, 1985, P.224-225).
O movimento de silenciamento da memória da guerreira Dandara, companheira de Zumbi, encontra um verdadeiro desrespeito à diversidade dos povos proveniente da memória coletiva herdada das lutas de resistência de Dandara no Quilombo dos Palmares que preferiu morrer à opressão.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
GARCÍA Canclini, Néstor. Culturas Hibrídas: estratégias para entrar e sair da modernidade. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2000.
BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas I: Magia e Técnica, Arte e Política. São Paulo: Brasiliense, 1985.
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