Aluno da Escola Nosso Lar I tem vida transformada através da leitura O primeiro leitor de três gerações, hoje busca dar uma vida melhor para a família através dos estudos


O Primeiro leitor de 3 gerações, hoje busca dar uma vida melhor a família através dos estudos.

Como diria o patrono da Educação Brasileira, “A educação liberta o ser humano por meio da consciência crítica, transformadora e diferencial, que emerge da educação como uma prática de liberdade” e foi através da educação que o aluno Alerhandro Willison, 9 anos, teve a perspectiva de realidade transformada através da alfabetização.

Nascido e criado na Ponta Grossa, bairro periférico da cidade de Maceió, o pequeno Alerhandro Willison faz parte de uma família de mais três pessoas, suas duas irmãs mais novas Alerhandra Melo e Maria Alexia, de 8 e 6 anos, respectivamente, além de sua mãe Alexandra Melo.

A família de Alerhandro se encontrava dentro das estatísticas que retratam o estado de Alagoas com a maior taxa de analfabetismo do país, tendo 337 mil pessoas de 14 anos ou mais que não sabem nem ler nem escrever. Porém essa história  começou a ser reescrita por meio da educação.

Foi a partir de uma ação idealizada pelos professores da Escola Nosso Lar I, O Natal na comunidade, que incentiva a leitura na escola com cançõe, peças de teatro, pinturas, além de colher diversas cartinhas com pedidos das crianças do local. Numa das edições do projeto na comunidade, a cartinha do pequeno Alerhandro foi escolhida. Nela, ele não pedia um videogame ou uma bicicleta, mas apenas uma cesta básica para poder se alimentar junto com a família.

Emocionada com aquele pedido inusitado vindo de uma criança, a diretora Gilda Verbenia junto ao corpo docente decidiu além de realizar o desejo que veio na carta, aproximar essa família da comunidade escolar.

O núcleo familiar de Alerhandro foi inserido na comunidade escolar do Nosso lar I. Ele e suas irmãs foram matriculados, passando a estudar, se alimentar e participar ativamente nos projetos da escola. No entanto, Alerhandro apresentava um comportamento retraído, por muitas vezes se irritando com os colegas ou se mantendo afastado da turma. Foi a partir de observações feitas pelo corpo docente, que foi notado que ele possuía dificuldade no aprendizado.

Projeto de Alfabetização

Alerhandro foi inserido no projeto A cidade dos meninos pelados, em que foram fundadas turmas de reforço para alfabetizar os alunos que ainda não conseguiam ler e escrever. Durante seis meses, os alunos iam por duas horas para as aulas de reforço que aconteciam no contra turno de suas aulas. O projeto faz alusão à obra do escritor Graciliano Ramos por ter crianças que não se sentem pertencentes a um lugar por suas diferenças.

Alerhandro era uma dessas crianças, que justamente por não saber ler e nem escrever, se sentia diferente dos colegas de turma e se isolava com receio de ser motivo de chacota. Mas com o incentivo de sua irmã mais nova Alerhandra, que participou de um concurso de soletração, dentro da própria escola, Alerhandro decidiu se esforçar mais na prática da leitura.

“Quando eu cheguei em casa com meu diploma, meu irmão começou a chorar dizendo que queria um para ele também, eu disse que bastava ele pegar o livro e começar a juntar as palavrinhas que ele ia conseguir muito mais que um diploma de soletração”, conta a irmã Alerhandra.

Com isso, Alerhandro persistiu nas aulas de reforço e estudou até conseguir ler as primeiras palavras, depois as primeiras frases e por fim seus primeiros textos. “Eu sempre quis ajudar a minha mãe e minhas irmãs, tenho o sonho de ser policial e tirar minha família da situação que vivemos hoje. Quero terminar meus estudos para nunca mais passar fome, porque muitas vezes não temos o que comer em casa e a dor da fome é uma coisa que eu não desejo para ninguém”, disse Alerhandro.

“Antes de aprender a ler e escrever, eu me sentia atrasado, às vezes dava até vontade de não estudar mais, mas depois que aprendi, tomei gosto e agora eu estou determinado a mudar a vida da minha família através da educação”, conta.

Mapeamento 

A  coordenadora da escola Nosso Lar I, Elizia Albanita, conta como foi o processo de mapeamento que foi feito para analisar o nível de leitura e aprendizado de alunos como Alerhandro.

“Fizemos um formulário para um mapeamento familiar, onde todos os pais foram convocados a responder e com isso foi detectado que em diversas famílias não existiam uma única pessoa alfabetizada e em alguns casos não existiam leitores há no mínimo três gerações no núcleo familiar”, afirmou a coordenadora

Foi com a preocupação de melhorar o ensino dos estudantes, com foco na comunidade do bairro, para acabar com a evasão escolar e ampliar a nota do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) que já chegou a ser avaliado com a nota 3.3, que a atual gestão da escola trabalhou de forma assídua, humanizada e determinada para levar a escola a atingir pela primeira vez nota 5 no IDEB.

A diretora da escola Nosso Lar I, Gilda Verbenia conta como foi o processo de alfabetização que mostrou não só ao Alerhandro, mas a diversas crianças o sentimento de pertencimento e o protagonismo de suas vidas

“Prezar pela educação desses jovens é mais do que nosso dever, é nossa obrigação como cidadãos de uma sociedade, que se não houver como base o ensino, terá que lidar com problemas bem mais graves no futuro”, disse.

Alerhandro é um dos muitos alunos que se tornaram referência dentro do seu núcleo familiar através da leitura, são vidas transformadas, destinos mudados e novos horizontes abertos para esses jovens que vêm de bairros periféricos e sem a educação, poderiam seguir caminhos sem volta”, concluiu a diretora.

Família 

A mãe de Alerhandro,dona Alexandra Melo, orgulhosa de seu filho, conta sobre as dificuldades que passa para criar os filhos.

“Alerhandro, Alerhandra e Maria Alexia são meus tesouros, meus filhos são meu pilar nessa vida, sem eles eu não seria nada. Luto todos os dias para ensinar a eles o caminho certo e eles em troca me ensinam o significado de amor. Eu parei meus estudos na terceira série, para ajudar minha mãe a colher mariscos como o sururu, limpava quilos e quilos por dia para vender, ou eu estudava ou eu comia, infelizmente não podia escolher os dois, hoje eu luto para que meus filhos possam terminar seus estudos e ter o alimento na mesa”, disse.

Alexandra explica um pouco mais sobre o desejo que tem de mudar a vida dos filhos. “Quero tirar meus filhos da situação que vivemos, quero dar uma vida melhor para eles, quero poder não encher os olhos de lágrimas quando eles me pedem algo para comer e eu não tenho o que dar. Meus filhos me ensinam todos os dias o sentido de força, persisto por eles e eles por mim”, afirmou em lágrimas dona Alexandra Melo.

Fonte: Ascom Semed

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