Maria Emília Clark: Da infância em Penedo aos palcos internacionais


Com 45 anos de carreira, a bailarina alagoana transforma o balé em um caminho de arte, educação e transformação social

Dança. Para muitos, o balé pode parecer apenas isso. Mas para a bailarina Maria Emília Clark, o balé vai além: ele é um caminho para transformar vidas, ouvir histórias e promover o bem. Para ela, formar bailarinos não é apenas ensinar movimentos, mas guiá-los a se tornarem melhores, criando uma jornada com o poder de alterar suas próprias realidades.

Maria Emília Clark é natural de Maceió, nascida em 19 de janeiro de 1968, mas cresceu em Penedo, com seus pais Eva Marta Clark, tocadora de acordeom no Conservatório de Venúzia de Barros, e Lydio Peixoto de Carvalho, odontólogo apaixonado por violão. Desde a infância, Maria demonstrava um forte interesse pelas artes, observando o universo folk e participando ativamente das atividades culturais no Colégio Imaculada Conceição.

“Passei toda a minha infância na histórica Penedo, imersa em uma religiosidade marcante, observando o homem folk e me envolvendo nas atividades artísticas do Colégio Imaculada Conceição, onde sempre exerci liderança. Declamava poesias, criava meus próprios versos, liderava o pelotão e me encantava com a dinâmica cinematográfica do Festival de Cinema de Penedo, desde os anos 70”, afirma Maria.

TRAJETÓRIA NO BALÉ

O início da carreira de Maria Clark foi na escola Ballet Eliana Cavalcanti, onde começou a estudar balé, inspirada pela prima Erika Clark, que já era aluna da instituição. Juntamente com suas duas irmãs, Lídiva, a mais velha, e Marta, a mais nova, Maria iniciou sua jornada. A decisão de fazer as três irmãs iniciarem juntas foi tomada por seu avô, Noel Clark, e seus pais, entretanto apenas Maria seguiu carreira.

Desde cedo, ela se destacou na escola, mostrando um desempenho acima da média. Com foco e dedicação, Emília sempre foi empenhada em melhorar suas habilidades. Com o tempo, essa dedicação a levou a evoluir rapidamente, saindo de aprendiz para professora.

“Sempre fui muito ativa e dedicada, buscando constantemente a evolução. Ficava horas na sala de aula, e, em pouco tempo, passei a ensinar no Ballet Eliana Cavalcanti, escola onde aprendi, e também no Cenarte. Eu realizava muitos desfiles, comerciais, participava ativamente da cena alagoana, atuando em peças teatrais, como a Bodas de Sangue, de Milton Bacarelli”, revelou.

Aos 16 anos, ela conquistou uma bolsa de estudos na escola Ballet Ismael Guiser, em São Paulo (SP), entretanto seus pais não a permitiram estudar para não abandonar a sua graduação.

Em janeiro de 1989, recebeu o convite para integrar a Cia Ballet Stagium enquanto participava dos tradicionais cursos de férias em São Paulo. A partir daí, teve a oportunidade de dançar em diversos lugares ao redor do mundo, e por todo o território nacional, América Latina e a Europa. Esteve presente em renomados festivais de dança, como a Bienal de Lyon (França), o Festival de Havana (Cuba), o Festival de L’Aquila (Itália), o Festival de Cádiz (Espanha), o Festival de Guanajuato (México) e o Festival na Hungria, e entre outros.

“A Cia Stagium daria a mim o crédito da profissionalização e do fazer coreográfico no mesmo padrão. Com pesquisa, memória, cenários vastos, trilhas abundantes e uma visão do fazer criativo de além fronteiras. Decisivamente, eu precisava desta vivência profissional para hoje fazer as 54 produções locais, memorialistas, com o desafio de sempre ser diferente e inovadora em cada processo criativo, técnico e artístico que sempre resolvo assumir”, disse.

DESAFIOS

Para Maria, um dos maiores desafios foi se destacar em um cenário tão competitivo, porém com tão poucas oportunidades no mundo, mas em especial, no Brasil.

“São muitos os que querem, mas são poucos os espaços profissionais no Brasil e no mundo. Você precisa ser e está com a técnica pronta, para qualquer momento você seguir. Ensaios diários, horários extras. Para você se destacar, você precisa se diferenciar, fisicamente, psicologicamente e ser um trabalhador assíduo verdadeiramente”.

A bailarina conta que poderia ter optado por sua graduação na Universidade Federal de Alagoas (Ufal), mas decidiu arriscar a oportunidade que surgiu durante um curso de férias em São Paulo, adiando a faculdade para um momento futuro. Para sua felicidade, ser contratada pela companhia transformou completamente sua vida. No entanto, essa mudança exigiu que ela desse muitas aulas e se dedicasse a diversas atividades, para que no final do ano pudesse realizar algo além de seu trabalho, o que a fez manter sempre um dinheiro reserva guardado. Em 2025, ela completa 45 anos de carreira.

A ESCOLA

Maria Emília Clark revelou que a criação de sua escola de balé nasceu não de uma necessidade financeira, mas da busca por um espaço fixo para atender à crescente demanda por aulas. Durante seu período como professora em uma academia maceioense, ela percebeu o aumento significativo do interesse pelo balé, mas também a falta de um local adequado para oferecer um ensino estruturado. Assim, em 1999, decidiu fundar a Escola Ballet Maria Emília Clark, um espaço dedicado à formação artística e técnica de bailarinos.

A escola segue um planejamento de longo prazo, com metas de 10 anos, visando proporcionar uma formação sólida e preparar os alunos para o universo profissional do balé. No nível mais avançado, a Companhia (Cia) da escola oferece oportunidades de estágios e participações em apresentações, ampliando as perspectivas artísticas de seus integrantes.

Com turmas diversificadas, a escola acolhe desde crianças de 3 anos, na turma Baby Class, até adultos com cerca de 60 anos, que encontram no balé uma forma de expressão e bem-estar. A filosofia da instituição reforça que não há limite de idade para a prática dessa arte.

Para Maria Emília, um dos maiores desafios está no planejamento criativo. “Assim como os escritores, também sou despertada nas madrugadas, mas, ao invés de palavras, sou tomada por movimentos, ações e cenas que surgem em minha mente. Tudo ganha significado quando é contextualizado pelas pessoas, que, além disso, representam a essência do bem fazer. Assim, sigo meus dias, me transformando em diferentes personagens e extraindo de cada um deles a criação, em uma simbiose que me impulsiona ao longo desses 25 anos.”

Com dedicação e inovação, a Escola Ballet Maria Emília Clark se tornou referência no cenário cultural, formando bailarinos e inspirando gerações.

“Maria Emília é um exemplo de como a arte transforma vidas. Sua dedicação ao balé e à formação de novas gerações de bailarinos é um orgulho para Alagoas. Ela representa a força da nossa cultura e mostra que, com trabalho e paixão, é possível levar o nome do nosso estado para o mundo inteiro”, destacou a secretária de Estado da Cultura e Economia Criativa, Mellina Freitas.

Fonte: Agência Alagoas

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